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Lúcia Helena Galvão - V Congresso Internacional de Felicidade: resumo da Palestra

Nota Editorial: neste post, apresento um resumo do vídeo do V Congresso Internacional da Felicidade. Através deste resumo, procuro compartilhar de forma acessível as principais ideias discutidas no vídeo. Agradeço à Nova Acrópole pelo seu empenho em disseminar conhecimento e promover a reflexão, bem como, à Professora Lúcia Helena Galvão, pela generosidade e encanto que deixa por onde passa.




Na sua inspiradora palestra no V Congresso Internacional de Felicidade, a Professora Lúcia Helena Galvão guiou o público por uma profunda reflexão sobre a felicidade, destacando como os ensinamentos dos grandes pensadores da história podem ser aplicados na busca de uma vida mais plena e significativa. Explorando conceitos fundamentais através das lentes da filosofia, Lúcia Helena apresentou uma coleção de "receitas" para a felicidade que transcendem o tempo e as culturas, oferecendo insights valiosos sobre como viver de forma mais autêntica e satisfatória.


O Significado Profundo da Felicidade

Para iniciar a sua reflexão, Lúcia Helena recorreu à etimologia da palavra "felicidade". Explicou que o termo tem as suas raízes no latim Félix, que significa "fértil", e no indo-europeu dei, que significa "amamentar". Estes significados sugerem uma perspectiva interessante: a felicidade está mais relacionada ao ato de dar do que ao de receber. Isto implica que a verdadeira felicidade não depende de circunstâncias externas, mas da nossa capacidade de sermos generosos e férteis, tanto em termos materiais como espirituais.

Esta visão etimológica conduz-nos a uma compreensão mais profunda da felicidade como uma forma de autonomia. Se a felicidade é algo que podemos gerar através das nossas ações e atitudes, especialmente por meio da doação e da generosidade, então somos, em grande parte, responsáveis pela nossa própria felicidade. Esta noção de que podemos "cultivar" a nossa felicidade através do que oferecemos ao mundo é uma mudança significativa em relação à visão comum de que a felicidade é algo que nos é dado ou retirado pelas circunstâncias externas.


Generosidade: A Base da Felicidade

Seguindo esta linha de pensamento, Lúcia Helena destacou que a generosidade é um dos pilares fundamentais da felicidade. A capacidade de nos doarmos ao outro, seja através de gestos simples ou de grandes sacrifícios, é uma das formas mais eficazes de construir uma vida feliz. Este ato de doação, segundo ela, não só enriquece a vida do receptor, mas também fortalece o doador, criando um ciclo positivo que contribui para a construção de uma comunidade mais harmoniosa e solidária.

Para ilustrar esta ideia, a professora citou uma frase inspiradora de Lacan: "Amar é dar de si mesmo". Aqui, o amor é visto como um ato de doação, e a felicidade como a plenitude que resulta dessa entrega. Este pensamento reforça a noção de que a verdadeira felicidade é encontrada quando deixamos de lado a preocupação com o que podemos obter e nos concentramos no que podemos oferecer. A doação, portanto, não é apenas um ato de generosidade, mas uma forma de alcançar a plenitude e, consequentemente, a felicidade.


A Busca de Sabedoria e a Auto-Superação

Outro ponto central da palestra foi a associação da felicidade com a busca contínua de sabedoria e a superação de desafios. Citando Sócrates e Platão, Lúcia Helena destacou que a felicidade não é um estado passivo ou estático, mas uma busca ativa por conhecimento e uma evolução constante. Sócrates, por exemplo, afirmava que "a felicidade é ter algum grau de sabedoria". No entanto, ele também reconhecia que a sabedoria começa com a humildade de reconhecer a própria ignorância. Este "ânimo de aprendiz", como descreveu Lúcia Helena, é um fator crucial para a felicidade, pois mantém-nos abertos ao aprendizado e ao crescimento contínuo.

Para Platão, a felicidade está profundamente ligada à busca da nossa verdadeira identidade. Ele acreditava que cada ser humano possui um ideal, uma espécie de arquétipo que representa a melhor versão de si mesmo. A busca pela felicidade, então, é a busca por nos aproximarmos cada vez mais desse ideal. Platão via esta busca como um processo de auto-superação, onde cada passo em direção ao nosso verdadeiro eu nos traz um maior sentido de realização e propósito.


Alinhamento com a Natureza e a Reta Razão

Lúcia Helena também trouxe à discussão as ideias de Aristóteles, que associou a felicidade à "ação segundo a reta razão". Este conceito refere-se à prática de viver de acordo com princípios universais de justiça, bondade e virtude. Para Aristóteles, a felicidade é alcançada quando as nossas ações são guiadas por estes princípios elevados, em vez de serem impulsionadas por desejos ou interesses egoístas. Viver de acordo com a reta razão significa alinhar os nossos pensamentos e ações com os nossos valores mais nobres, criando assim uma harmonia interna que se reflete numa vida mais satisfatória e feliz.

Este alinhamento não é algo que ocorre naturalmente ou sem esforço; é uma prática que requer dedicação e disciplina. No entanto, Aristóteles acreditava que, ao treinar a nossa mente para pensar de forma justa e virtuosa, e ao agir em conformidade com esses pensamentos, construímos uma vida que é, por sua própria natureza, feliz. Esta felicidade não é efémera ou superficial, mas profunda e duradoura, pois está enraizada na nossa própria natureza humana e nas qualidades que nos definem como seres racionais.


Aceitação e Transformação: A Sabedoria Estoica

Por fim, a palestra abordou a importância de aceitar as circunstâncias da vida como oportunidades de crescimento. Inspirada pelos ensinamentos dos estoicos, a professora ressaltou que, ao aceitar as experiências da vida com gratidão e utilizá-las como trampolins para o nosso desenvolvimento, construímos uma felicidade sólida e resiliente. Para os estoicos, a vida não é caótica ou sem sentido; pelo contrário, ela é um cosmos, um todo ordenado que nos oferece exatamente as experiências que precisamos para crescer.

Lúcia Helena destacou a ideia estoica de que nada acontece ao ser humano que não seja adequado ao seu desenvolvimento. Este conceito, conhecido como "amor fati" ou "amor ao destino", ensina que devemos não só aceitar as circunstâncias da vida, mas também amá-las, pois elas são instrumentos do nosso crescimento. Esta aceitação ativa, no entanto, não é passividade ou resignação. Pelo contrário, é uma forma de envolvimento profundo com a vida, onde cada desafio é visto como uma oportunidade para nos tornarmos melhores e mais sábios.

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