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E quando o resultado da Terapia de Casal é a separação?


Ao abordarmos o tema da separação, é essencial considerar vários aspetos que envolvem a família, o casal e os filhos. Neste artigo, enquanto terapeuta de casal sistémica, irei explorar os motivos, objetivos e as consequências da separação. O nosso objetivo é oferecer uma visão informativa e integradora sobre esse processo desafiador.


Motivos e Objetivos da Separação

A decisão de separação não está ligada apenas a um motivo isolado, mas a uma combinação de fatores. Os casais podem optar pela separação quando sentem que a união perdeu o sentido, seja devido a diferenças crescentes, falta de objetivos em comum, dificuldade em adaptar-se aos papéis familiares, insatisfação na conjugalidade, problemas de intimidade e companheirismo emocional, entre outros. É importante entender que esses motivos e objetivos estão interligados e desempenham um papel decisivo na conservação ou dissolução do relacionamento.


O Processo de Separação

A separação não ocorre instantaneamente, mas é um processo gradual que pode ser desencadeado por eventos repentinos. Geralmente, a relação conjugal passa por um período de decadência, caracterizado por conflitos constantes, agressividade, indiferença e falta de comunicação entre o casal. O estágio pré-decisão é marcado por discussões, acusações, dúvidas e ambivalência de sentimentos. É comum que um dos cônjuges esteja mais inclinado a resolver a situação, enquanto o outro pode resistir à ideia de separação. A gestão dessa fase influencia a qualidade do processo subsequente.


Etapas do Processo de Separação:


Pré-Decisão: nesta fase, os casais vivenciam insatisfação e infelicidade, considerando a possibilidade de separação. É um período que levanta muitas dúvidas, propostas de apoio, e ambivalência emocional. Algumas vezes, ambos os cônjuges questionam e consideram a hipótese de se separarem, pois estão insatisfeitos e infelizes. No entanto, é mais comum que um dos cônjuges queira resolver a situação e finalmente separar-se, enquanto o outro mantém-se alheio ao processo. Normalmente, ele é surpreendido pela notificação da decisão do primeiro. Mesmo estando insatisfeito, ele resiste à ideia, sente-se afrontado e reage mal à proposta. Não está satisfeito e talvez nem queira continuar a relação, mas não aceita que o outro tenha decidido sozinho sobre uma questão que é dos dois. Isso é comum quando o padrão da relação é competitivo. Quanto mais inesperada a decisão parece ser, mais difícil será o transcorrer do processo e o ajustamento emocional pós-separatório. A pré-decisão é um momento de muito sofrimento, talvez o de maior desequilíbrio. A gestão dessa etapa influenciará a qualidade do processo subsequente;


Efetivação da Separação: a forma como a separação se desenrola depende da dinâmica do casal. Casais que conseguem dialogar e tomar decisões conjuntas têm mais hipótese de chegar a acordos durante o processo de separação. No entanto, quando a comunicação é conturbada, atitudes negativas podem envolver os filhos, transformando-os em "moedas de negociação". É importante reconhecer que os sinais de instabilidade e regressão apresentados pelos filhos durante essa fase são reações normais ao processo de transformação familiar;


Pós-Separação: após a concretização da separação, é necessário que o ex-casal reorganize as suas vidas individualmente e emocionalmente. Procurar apoio, tanto para si quanto para os filhos, pode ser fundamental nesse momento. Na relação parental, é preciso estabelecer novas regras de convivência, considerando o melhor interesse das crianças. É possível optar pela guarda compartilhada, mas também é necessário lidar com a divisão de bens, responsabilidades financeiras e ajustes emocionais. A fase pós-separação pode trazer conflitos e sofrimentos, mas também abre perspetivas de mudança e crescimento.


Consequências para a Família, o Ex-Casal e os Filhos

A separação, mesmo quando necessária para o bem-estar familiar, causa um período de desequilíbrio e caos que pode durar de um a três anos até que a estabilização ocorra. Tanto a família como um todo quanto as famílias de origem são afetadas pela separação do casal. O ex-casal enfrenta sentimentos ambivalentes, luto pela perda, saudade, frustração e esperança. É uma oportunidade para reconstituir a identidade individual, estabelecer novos vínculos e enfrentar desafios emocionais e sociais.


Os filhos, por sua vez, reagem de maneiras distintas à separação, influenciadas por fatores como temperamento, sexo, posição na família, experiências passadas, sistema de apoio, competência cognitiva e social, circunstâncias da separação e gestão do processo pelos pais e famílias ampliadas. É importante destacar que diferentes fases do ciclo vital e idades podem facilitar ou dificultar a adaptação dos filhos à separação. Embora seja menos impactante para os bebés, a separação pode ser especialmente desafiadora para crianças em idade pré-escolar e crianças em idade escolar elementar, que têm dificuldade em lidar com a ruptura. Na adolescência, a separação pode representar tanto uma carga adicional de tensão em relacionamentos já difíceis quanto provocar mudanças na participação da vida familiar, levando ao amadurecimento. Já para os jovens adultos, lidar com a separação dos pais é mais fácil, pois estão a tornar-se independentes. No entanto, para os filhos na meia-idade, a separação dos pais na velhice pode ser bastante perturbadora.


Em suma, a separação é um processo complexo que afeta não apenas o casal, mas também a família como um todo e como sistema que é. É fundamental compreender os aspetos, motivos e consequências desse processo, a fim de proporcionar apoio e orientação adequados para todos os envolvidos. Ao reconhecermos a importância da compreensão mútua e de soluções saudáveis, a Terapia de Casal Sistémica pode ajudar as famílias a enfrentarem os desafios da separação e, eventualmente, construírem uma nova realidade de convivência e crescimento.

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