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"A Razão e a Paixão" - Série "O Profeta", segundo Gibran: resumo sobre os comentários da Professora Lúcia Helena Galvão

Nota Editorial: neste post, apresento um resumo do vídeo "RAZÃO E PAIXÃO, segundo Gibran - Série "O Profeta" - Lúcia Helena Galvão" que que é conteúdo que pertence ao canal do Youtube da Instituição "Nova Acrópole". A "Nova Acrópole" é uma instituição que admiro profundamente pelo seu trabalho em filosofia e desenvolvimento pessoal, oferece conteúdos valiosos e esclarecedores. Através deste resumo, procuro compartilhar de forma acessível as principais ideias discutidas no vídeo. Agradeço à Nova Acrópole pelo seu empenho em disseminar conhecimento e promover a reflexão, bem como, à Professora Lúcia Helena Galvão, pela generosidade e encanto que deixa por onde passa.





O capítulo de Kahlil Gibran, "A Razão e a Paixão", em O Profeta, trata de um dos temas mais fundamentais da vida humana: o equilíbrio entre o racional e o emocional. Gibran, como em grande parte da sua obra, aborda essa temática com uma profundidade poética, mas ao mesmo tempo filosófica, criando uma reflexão sobre como essas duas forças, muitas vezes consideradas opostas, são na verdade complementares e essenciais para a realização plena da vida.


A sacerdotisa Almitra, que já havia perguntado a Gibran sobre o amor, surge novamente neste capítulo, agora interessada em entender como essas duas forças — razão e paixão — atuam no ser humano. A escolha dela para essa pergunta é significativa, pois como sacerdotisa, sua função era ajudar as pessoas a sacralizarem suas vidas, a encontrar um sentido mais profundo na existência. E essa busca, essencialmente, passa por entender e integrar essas duas dimensões aparentemente contrastantes. Gibran responde de forma a mostrar que tanto a razão quanto a paixão são ferramentas valiosas, necessárias para a vida humana, mas que, se usadas de forma desequilibrada, podem se tornar destrutivas.


Ele usa a metáfora da alma como um barco navegando no mar. A razão é o leme, que dá direção, enquanto a paixão são as velas, que fornecem o impulso. Sem as velas, o barco não se move, ficando estagnado, mas sem o leme, mesmo com o vento, o barco é levado ao sabor das correntes e das tempestades, sem rumo. É uma visão profunda e poderosa da condição humana: se formos puramente racionais, ficamos paralisados, incapazes de viver plenamente, presos a uma frieza intelectual que não nos permite sentir a vida em sua intensidade. Por outro lado, se formos dominados pela paixão, nos tornamos impulsivos, muitas vezes nos destruindo ou destruindo o que amamos no processo.


A sabedoria de Gibran aqui é nos convidar a integrar essas forças, a usar a paixão como combustível, mas guiá-la com a razão. Isso reflete um ensinamento antigo e presente em muitas tradições filosóficas e espirituais: a necessidade de transcender os extremos e encontrar a virtude no meio-termo. A tradição grega, por exemplo, também falava da mesotes, o equilíbrio virtuoso, onde a coragem está entre a covardia e a imprudência, a generosidade entre a avareza e a prodigalidade. De maneira similar, Gibran nos convida a harmonizar razão e paixão, encontrando o ponto em que ambas coexistem em harmonia e se reforçam mutuamente.


Há algo de profundamente espiritual e simbólico nesse capítulo. Gibran nos lembra que esses dois elementos, razão e paixão, fazem parte de um todo maior e que o desequilíbrio entre eles nos afasta de nossa verdadeira essência. Quando ele afirma que "vossa alma é frequentemente um campo de batalha onde vossa razão e vosso juízo combatem vossa paixão e vosso apetite", ele revela a dinâmica interna da psique humana. Muitas vezes, somos vítimas desse conflito, tentando escolher entre o racional e o emocional, como se fossem forças excludentes, incapazes de coexistir.


No entanto, Gibran nos diz que essa batalha só pode ser vencida quando deixamos de ver a razão e a paixão como inimigas, e passamos a tratá-las como "hóspedes amados em nossa casa". Aqui está a chave de seu ensinamento: não se trata de eliminar uma em favor da outra, mas de aprender a acolher ambas, sabendo que são partes essenciais de quem somos. A sabedoria está em ser capaz de usar a razão quando é necessário, e deixar que a paixão nos mova quando for o momento certo. É uma integração, não uma negação.

Há também uma dimensão mística na forma como Gibran trata a paixão. Ele compara o agir apaixonado de Deus à ação das forças da natureza, como a tempestade que sacode a floresta com trovões e relâmpagos. Neste ponto, Gibran revela a face criativa da paixão. Ela é destrutiva, sim, mas também é renovadora. Assim como as tempestades purificam e trazem novos ciclos de fertilidade à terra, a paixão, quando bem direcionada, renova a alma, permitindo que ela renasça continuamente, assim como a Fênix que surge das cinzas.

Essa paixão, contudo, precisa ser temperada pela razão. A razão, por sua vez, é o elemento que dá forma e estrutura à vida. Quando Gibran fala do "repouso de Deus na razão", ele se refere à ordem natural do universo, à serenidade e à regularidade das coisas bem construídas. A razão é o que nos permite encontrar essa ordem dentro de nós mesmos e no mundo, e sem ela, seríamos consumidos pelo caos. A metáfora da natureza que ele utiliza, comparando a serenidade dos prados ao repouso divino na razão, mostra como ambos os aspectos, razão e paixão, existem no universo e são reflexos do divino.


Ao trazer esses conceitos para o contexto humano, Gibran não está apenas falando sobre o equilíbrio entre emoção e intelecto, mas sobre o próprio sentido da vida. Ele sugere que para alcançar a plenitude, devemos aprender a "repousar na razão" e "agir na paixão". Não é uma questão de escolher entre um ou outro, mas de permitir que ambos convivam em harmonia. A vida humana é tanto razão quanto paixão, e só ao integrar esses dois elementos podemos viver plenamente, sem nos perdermos em um ou em outro.


Há também uma crítica implícita à maneira como nossa sociedade moderna lida com esses dois aspectos. Vivemos, muitas vezes, em um extremo de racionalidade, onde tudo é calculado, planejado e avaliado de maneira fria e desapaixonada. Ao mesmo tempo, também caímos em momentos de passionalidade extrema, onde as emoções parecem dominar e as decisões se tornam impulsivas e destrutivas. Gibran nos oferece um caminho do meio, uma visão de sabedoria onde aprendemos a temperar nossa paixão com a razão e nossa razão com um toque de emoção. Esse equilíbrio é o que nos torna verdadeiramente humanos.


Gibran também toca em um ponto essencial quando fala da necessidade de autoconhecimento para alcançar essa harmonia. Ele sugere que só podemos ser Pacificadores de nossa própria alma se estivermos dispostos a conhecer todos os nossos elementos — razão, paixão, medos, desejos — e aceitá-los como parte de nós mesmos. Isso requer uma profunda introspecção, uma capacidade de olhar para dentro e reconhecer nossas contradições sem nos julgarmos. O verdadeiro pacificador, como ele diz, não é aquele que elimina o conflito, mas aquele que integra todos os aspectos de si mesmo, transformando a "discórdia e a rivalidade" em "união e harmonia".


Nesse sentido, a mensagem de Gibran é tanto psicológica quanto espiritual. Ele está nos convidando a embarcar em uma jornada interna, onde devemos aprender a lidar com nossos próprios demônios e sombras, para então podermos encontrar a paz verdadeira. Essa é uma paz que não vem da repressão de nossos desejos ou da negação de nossa paixão, mas da sua aceitação e sublimação.

Ao longo de sua obra, Gibran revela essa visão de integração e transcendência. A razão e a paixão, quando harmonizadas, elevam o ser humano a um nível mais alto de existência. Elas se tornam as asas da alma, permitindo que ela navegue pelos mares da vida com sabedoria e vigor. O ser humano, ao aprender a equilibrar essas duas forças, se torna completo, capaz de viver com profundidade e intensidade, mas também com clareza e propósito.


O equilíbrio entre razão e paixão é, portanto, uma chave para a realização pessoal e espiritual. Gibran nos ensina que não devemos temer a paixão nem nos agarrar rigidamente à razão. Ambas são expressões do divino, e nossa tarefa é aprender a usá-las com sabedoria. Somente assim podemos viver uma vida plena, onde cada momento é uma oportunidade de crescimento, de renovação, e de expressão autêntica do que somos. Ao final, Gibran nos convida a um tipo de ressurreição cotidiana, onde a cada novo dia podemos renascer das cinzas do que éramos, mais equilibrados, mais conscientes, e mais próximos de nossa verdadeira essência.

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